terça-feira, 6 de março de 2012

Memórias de um Gibiota - Como comecei a ler e gostar de quadrinhos


                                      O pequeno Sasqua por volta de 82...começou cedo no vicio....

         A primeira encarnação da revista americana Wizard no Brasil em meados dos anos 90 era o oasis da cultura pop no meio editorial.  Tinhamos a Set e a Bizz, mas seus espaços para quadrinhos eram raros ou inexistentes. A Editora Globo topou essa empreitada e era muito bem sucedida, ainda que tenha tido uma vida curta(durou apenas 16 edições). Ao longo dessas edições tinhamos colunistas excelente(até Mauricio de Souza tinha sua pagina mensal), mas de todos, a melhor coluna sem duvida era a do Jotapê.

        Figurinha facil das editoras de quadrinhos desde os anos 80, o Jota expressava suas opiniões com bom humor e alfinetava a industria( uma de suas colunas mais famosas foi a "Corta!" que explicava como a tesoura cantava e diminuia boa parte das historias para caber no enxuto limite de 84 paginas). 
Mas o texto do Jota que mais me agradou foi Memorias de um Gibiota(dividido em duas partes), que contava como ele tinha adquirido o vicio das hqs quando era criança. Foi realmente uma perola e fiquei com vontade de escrever as minhas proprias memórias quadrinhisticas :


              Minha mãe sempre primou por minha educação, e me ensinou a ler muito cedo. Aos três anos ja lia! De tudo! Jornais, revistas, livros... boa parte vinha de meu tio que morava conosco, isso em 82. Mas meu grande momento da leitura foi quando me deparei com os gibis. Achei do nada, no meio de um fardo de revistas, uma edição do Fantasma, da RGE. Foi paixão a primeira vista. Eu ja gostava de herois, principalmente dos desenhos "desanimados" da Marvel que ainda passavam na tv. Não bastando isso, ainda tinhamos a ressaca(no bom sentido) de Superman no cinema, os telefilmes vergonhosos do Capitão América, o seriado capenga do Homem-Aranha e o "novo" desenho do proprio cabeça de teia com seus "incriveis amigos". Alguma coisa de merchandising(lembrem se: era inicio dos anos 80, essas coisas engatinhavam por aqui) como camisetas, fantasias, bonecos... tudo isso ajudou a me viciar no mundo magico dos superherois.

           Meu pai percebeu minha paixão pelas hqs, e como tinha uma banca de revistas usadas no caminho pro trabalho, todo sabado ele me trazia 5 gibis. Esperava avidamente a semana toda pra chegar sabadão: papai chegava mais cedo do trabalho, mamãe fazia um bolo, western spaghetti ou filme de gladiadores no SBT(que na epoca era TVS) e é claro, minha cota semanal de quadrinhos. 

          Como eram usados, li muita coisa que era editada nos anos 70, especialmente Fantasma, Madrake, Punhos de Aço(Punho de Ferro), Hulk, Herois da TV, Capitão America e o meu favorito: O Homem Aranha.
Eu adorava todos os personagens, mas o Aranha sempre teve lugar cativo. Tive a sorte de ler a nata das hqs, em sua maioria escrita por Stan Lee. E meu apreço pelos personagens foi carimbado quando ganhei um porsche de plastico, no qual Capitão America e Homem Aranha estavam de passageiros.


         Continuei minha empreitada, sempre em busca de mais e mais quadrinhos. E todo sabado chegavam novas historias e personagens(Thor, Quatro Fantasticos, Homem de Ferro, Principe Submarino). Estranhamente, nada da DC chegava as minhas mãos por alguma razão. Só fui ter contato com Superman e Batman nos quadrinhos anos depois, só os via no desenho do Superamigos, que convenhamos era bem bobo, até pra uma criança de 5 anos como eu.
Conforme fui crescendo, fui separando o joio do trigo. Sorry Mandrake, Luke Cage, e Inumanos... bem vindos Vingadores, Nova, Kazar!

          Tive minha fase Mônica/Disney la pelos meus 10 anos. E adorava(ainda adoro muita coisa, da Mônica as mais antigas e da Disney basicamente as obras de Carl Barks e Don Rosa), e MAD. Todo muleque de 10 anos acha a MAD a coisa mais engraçada do mundo.

          Em 1989, meu pai e minha irmã foram hospitalizados, e eu acabei sob os cuidados de uma tia minha. Ela era casada com um fanatico por publicações, muitas ele conseguia como doação, e nesse bolo tinha muitos quadrinhos. Em sua maioria eram infantis, maioria de desenhos da Hanna Barbera. Mexendo nessas revistas, vi um encarte de assinaturas em uma edição de Veja. Olhei bem pro anuncio e vi a capa de X-men numero 2 da editora Abril.

            Ao ver aquele personagem com garras e uma garota inocente ao chão (e com a chamada de capa: Garras e traição!) fui fisgado. Queria saber quem eram aqueles tais de Xis-men( eu so fui pronunciar "Ecs-mein" anos depois quando vi o desenho na Globo e vi que fiquei anos falando como um bobo...)!
Em Curitiba, o que mais se tem é sebo. Aquelas coisas de capital cultural, pelo menos nesse quesito é imbativel. Existia um sebo - talvez o melhor e mais saudoso sebo que ja tivemos em Curitiba- chamado Livraria Werk. Era ampla e continha as melhores hqs da região(sempre em excelente estado de conservação). Foi lá que comecei a caçar os mutantes. Me viciei. A saga dos mutantes sob as inspiradas batutas de Chris Claremont e John Byrne me deixavam em extase. Desde então Wolverine, Ciclope e seus asseclas teriam espaço em meu pequeno coração Fanboy.
           Fui atras de mais coisas de Byrne, quando me deparei que tinha muita coisa em casa pra ler( a eterna parceria Homem Aranha + Quarteto Fantastico me rendeu dezenas de historias ineditas pra mim, ja que lia o cabeça de teia sem me importar com as historias que sobravam no gibi.
Ainda na minha sede por Byrne, me rendi aos encantos DCnautas: sua reformulação do Super-Homem foi mais uma das suas obras que me pegou. Isso que ainda tinha Hulk, Tropa Alfa e Vingadores pra ler dele.


 
      Superaventuras Marvel foi a revista que mais deixou saudades em mim. Seu mix era de uma qualidade absurda: X-men, Demolidor de Miller, Thor de Simmonson... realmente foi uma que marcou época nos bons tempos do incompreendido formatinho.

         Aos 16, minha dose mensal de aventura era preenchida com Homem Aranha, X-men, Capitão América e Demolidor. Nada da DC, o que faz de mim um marvete inveterado. Mas descobri que nas entranhas da Distinta Concorrencia havia algo muito bom: as perolas Watchmen e Cavaleiro das Trevas. Watchmen não tem o titulo de melhor historia em quadrinhos de todos os tempos, lembro da primeira vez que li e como ela me atingiu. No ultimo numero, eu li, joguei a hq no outro lado do quarto e fiquei atonito. Não era possivel aquilo, as hqs entravam em um novo patamar! E nem preciso dizer que nunca fui um grande fã de Batman, mas Cavaleiro das Trevas me fez respeitar o personagem, alias complementar o respeito que ja havia ganho com a animação de Bruce Timm no inicio dos anos 90.



              Passei boa parte dos anos 90 lendo basicamente X-men, Homem Aranha e Superboy(adorava aquela reformulação com o novo Superboy malandrão no Hawai). Infelizmente deixei as 3 no final da decada(X-men virou novela, Aranha e sua saga do clone intragavel e Superboy teve sua revista cancelada). É claro que editora Abril contribuiu pra isso quando lançou a linha Premium e seu proibitivo preço de R$ 9,90(que era carissimo 10 anos atras e ainda hoje não temos quadrinhos mensais a esse preço). 
Nos anos 2000, a grande virada. Com os quadrinhos nas mãos da Panini, tivemos uma revolução: papel de qualidade, o fim do formatinho e historias sem cortes. Mesmo assim, por pouco interesse, li pouca coisa nesse período. Acho que os Supremos foi o grande acerto, mas fora isso nada tivemos de muito inovador nas revistas de linha na época. Tanto que na primeira metade da decada, o que reinou nas bancas foram as republicações de historias classicas.  
         Guerra Civil da Marvel foi a ultima grande saga, a junção da arte sensacional de Steve McNiven e um roteiro cheio de grandes momentos de Mark Millar foi uma grande surpresa.E claro, fiquei do lado do falecido(risos) Capitão América. 

          Desde então tenho lido coisas aleatorias,Capitão América que vem mantendo o interesse, os Novos Vingadores que acompanho desde que o Aranha entrou na formação, Demolidor e Homem Aranha que alternam bons e maus momentos.... Meu novo xodó são os encadernados, republicações e lançamentos independentes( Asterios Polyp, Bando de Dois e Retalhos são gratas surpresas).

         Espero que a Marvel( e a DC por que não?) finalmente acertem o passo, para que eu volte aos bons tempos de leitor convicto, quando esperava avidamente pelo sabado a tarde pra ter aventuras ao lado de meus superherois favoritos!

Sasquash Cavalera

2 comentários:

  1. Que bacana seu blog Sasquash, a Clara havia contado que você tinha, mas não sabia como era. Parabéns pelo texto e, principalmente, pela trajetória no mundo das HQs - Digna de um Homem Aranha ahahahahaha Um beijo!

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